Thursday, January 14, 2010

Os Protetores

A mente humana cria diversas maneiras do individuo sentir segurança, do individuo acreditar. Algumas pessoas acreditam em deuses, outras não são pluralistas (só em um), já outras cultivam a mente e o espírito ligados pelo corpo.

No entanto, a crença nunca foi motivo de separação para nós brasileiros. Muito pelo contrario, em nosso país existem quarteirões e quadras lotadas de diferentes religiões. Um terreiro de Macumba não elimina uma Igreja Universal do mesmo CEP. Até que uma parte especifica da cidade ensinou as pessoas a rezarem, orarem, cultivarem, se dedicarem a apenas um desejo. Ensinou que todas as religiões podem acreditar na mesma força. O desejo de que eles sempre estejam entre nós, protegendo, afastando tudo de ruim e atraindo as melhores energias.

Eles são chamados por vários nomes, "Santos", "Divindades", "Deuses", "Sagrados", palavras que trazem significados colossais a pessoas e energias inexplicáveis aos olhos do cético. Porém, o nome de oração ficou como "Os Protetores".

Tudo por conta de milagres, acontecimentos, que percorrem a boca do povo, de ações realizadas por homens que salvaram a fé, que trouxeram de volta a capacidade de acreditar e o poder de sonhar.

Certo dia em frente ao Pau de Arara, clube característico a beira da rodovia que corta esse Brasilzão de Norte a Sul, a nossa BR - 116. Nesse dia, daqueles que a sensibilidade está no ar, praticamente wireless, daqueles dias de toró em Messejana. O Pau de Arara lotado, entupido como dizem, como era de se esperar uma confusão se instalou no clube... Uma briga generalizada! Gritos, Sirenes, Corre-Corre, desespero, vocalista gritando no microfone "Calma! Calma Gente!", a natureza falando sua língua através de raios e trovões, e mais uma serie de efeitos especiais saídos de uma misteriosa garrafa de cachaça. No meio disso tudo, um estampido, um barulho imperou nos ouvidos, uma imagem deu realidade ao inferno. Era de um homem baleado, seu corpo caiu de forma assutadora, mas se isso fosse um filme provavelmente seria em camera lenta. Seu corpo foi ao chão. Aos olhos de todos mais um homem morto sem motivo. Todos ficaram abismados, afinal não é todo dia que se vê alguém levando bala nos peitu.

Quando do nada, extamanete do nada, dois homens se aproximaram da vitima, meio atrapalhados e meio desequilibrados. Um segurava uma garrafa que tinha uma cor comum, mas havia algo diferente nela, parecia ilumianda por dentro, se destacava naquela escuridão, brilhava como algo sagrado e parecia ser extensão do corpo daquele homem. O outro tinha os olhos meio sonolentos, na verdade um olho parecia fechado e o outro estava a caminho de fechar, um sorriso ocupava seu rosto, sua dentição estava longe de ser completa, porém ele era a felicidade personificada, sorria e falava com o outro como se o orientasse. Ninguém entendia o que estava acontecendo, alguns acharam que eles eram amigos ou familiares da vitima. Mas, como explicar aquela brasilidade?! Enquanto o sorridente abraçava a vitima por trás e levantava sua cabeça, o outro abria sua boca e serviu o liquido que estava na garrafa, ai a compreensão foi embora. Quando de repente, o baleado se levantou, assustado, parecia que tinha caído de um caminhão, os dois homens ficaram parados apenas olhando a reação da vitima.

A multidão logo gritou: "É Milagre! É Milagre!". E correu pra cima dos três.

Os gritos e a multidão voando em cima dos três fez com que aqueles homens desaparecessem, ou quem sabe, apenas se massificaram.

Depois de algumas semanas cresceu o boato de que na Praçinha de Messejana, dois homens semelhantes aos do Pau de Arara fizeram outro milagre. Que foi o de fazer correr em desimbestamente deficientes físicos correndo o risco de serem violentados por jovens marginais. Dizem que um deles se aproximou dos três deficientes e disse: "Rapaz, tem uns caras vindo ali comendo o c* de todo mundo!". E outras historias de milagres foram surgindo, historias talvez aumentadas, quem sabe um dia uma teoria desminta os acontecimentos, mas quem sabe eles não são realmente o que dizem.

Eu, pessoalmente, nunca acreditei. Ouvi diversas historias e elas nunca me convenceram. Até que essa semana peguei a linha Grande Circular 1 e a velha loucura de sempre, a pressa de chegar logo, o trânsito caótico, ultrapassagens malucas, motoqueiros desafiando a morte, motoristas fazendo de tudo pra não cumprir as leis e a fiscalização eletrônica.

E de parada em parada, até que em uma parada qualquer dois homens sobem. Eu sstava displicente, com o pensamento distante e um momento me dei conta e dois homens, parentemente, homens da vida, desarrumados, um sorridente e tirando onda com o mais calado, ele dizia: "Olhai macho, como ele tá bebo!". O outro calado, com os olhos brilhantes, diria que era de beber cachaça, afinal ele tinha uma garrafa de Ypioca empalhada colada na mão. Que no balança {do mar?} do onibus o fez ir ao chão, uma queda boba. Uma mulher ao meu lado disse: "O bebo é tão safado que não solta a cachaça!".

Porém, uma paz deu sinal e subiu em nenhuma parada. Uma calmaria se instalou, preocupação não existia mais, o medo se ser assaltado desapareceu. Então, um estalo na minha cabeça. "O QUÊ?!?!?! SERÁ QUE SÃO ELES?!?! OS PROTETORES?!?!". E então me conta, a garrafa, os olhos preguiçosos, um calado e o outro falante e o desequilibrio. Conclui, são eles. Estou Protegido.

Claro, ninguém percebeu a paz que pagou inteira no popular Grande Circular.
Se acredito? Não sei...
Só acho que não custa nada ter dois bêbados próximo a você, afinal cada um tem sua fé.