Thursday, March 25, 2010

Papagaio, O Craque

Para muitos clubes internacionais, seus craques esbanjam habilidade, condição física, atitude, lideranças e diversas outras qualidades atléticas, e em alguns casos específicos, internacionais, essas aptidões englobam beleza e carisma "hollywoodianos".

Porém, existem as exceções: alguns jogadores se tornam ídolos por suas atitudes também fora de campo, como o Dadá, Túlio, Romário e uma série de outros craques.

Aqui em Messejana não é diferente, temos nosso craque. Muitos o chamam de "O Dono da História" e ele nem foi o 10 ou o 9 da equipe, ele foi simplesmente o número 17 do Salgado da Gama. Era goleador, mas seus gols não chegaram perto dos milhares do Rei Pelé. Fez poucos e decisivos gol. Papagaio era o nome da fera. Bem, raramente o número 17 designa a estrela de um time. Normalmente, é o 10, que foi de Pelé e Maradona, ou o 11 de Rivelino e Romário, ou o 9 de Batistuta e Ronaldo Fenômeno e tantos outros, mas 17 é raro sim. E ainda mais, quando você sabe que Papagaio não era titular. Ele estava sempre acima do peso, não tinha grande intimidade com a bola, até pra correr tinha dificuldade. Parecia correr mancando. Difícil descrever. Apesar das dificuldades, nunca nenhum médico se aproximou dele avaliar seu problema, até porque muitos diziam: "Qual é o problema dele?! Ele é perfeito desse jeito ai mesmo."

Barrigudo, dentura, pés de '15 pras 3' e bigode. Quando o jogo era fora de sua casa, fora de Messejana, a torcida adversária gritava: "Saí daí cagão!" ou "Gordão" ou tantos outros nomes feios. Porém, a orientação de seu técnico era apenas: "Faz teu jogo, macho!".

E qual poderia ser a jogada desse não-atleta?!
Oura... Papagaio ficava andando pela beirada da linha, abraçando os cotovelos pelas costas, com jeito de quem está observando a qualidade do gramado, como quem não quer nada e de olho no time adversário, o posicionamento, a habilidade, os nomes e principalmente nas vozes dos jogadores. Em outras palavras, estudando o jogo.

Quando era chamado pelo técnico e recebia sua orientação, ele entrava em campo já cansado, afinal a barriga só revela a falta de preparo físico. Então, ele ficava ali entre os zagueiros, atento ao jogo, sonso. Quando de repente a defesa do seu time dá um chutão pra frente, os zagueiros do time adversário correm pra bola a dominam e escutam a voz do companheiro pedindo a redondinha... E quando menos se espera, o mais improvável acontece e lá está Papagaio balançando a rede.

A torcida do time grita: "Tá louco ô fdp?", "Ahhhh zagueiro...", "Corno Safado". Acontece que o zagueiro simplesmente deu um passe, uma assistência para Papagaio marcar. Daí, revela-se o significado de "Papagaio, faz a tua jogada".

Quando ele estava fazendo em seu estudo pelo campo de jogo, ele vai decorando o timbre da voz de cada jogador do time adversário ou como a comunicação interna do time acontecia, e quando entrava em campo ele aplicava seu veneno. Papagaio sonso, bicho misterioso, tiro certeiro.

Ninguém imaginava, que o atacante Papagaio era um imitador nato, confundia as defesas como nenhum atacante, desconcertava qualquer time, pode botar qualquer um que ele resolve. Já ouvi história, de que times internacionais que falavam outra língua, francês, alemão, japonês e tantos outros caíram no talento desse grande jogador. Talento único! Que anos mais tarde, saiu do campo e foi para as cabines de rádio, cada jogo ele narrava como um narrador famoso. Um dia era Galvão, outro Luciano ou Silvio, enfim seu repertório era infinito, vozes, sonoplastias, instrumentos musicais, tudo que fazia som ele imitava. Seu slogan era: "Papagaio, sei a voz de todos e poucos sabem a minha".


Tuesday, March 16, 2010

Paixão pelo Time da Rua

Futebol do Subúrbio... Coloco em letra maiúscula pela importância desse evento. OUUra... Veja bem, o cara torce pelo Ceará, Fortaleza ou Ferroviário, dificilmente torce por outro time do estado. Ou seja, se ele se mudar pra outro estado é normal que adote um time grande, como Flamengo, Cortinthians, São Paulo e outros dali debaixo. E você pode perguntar: Por que ele faria isso?! Ora bolas, porque ele quer tirar aquela onda com o amigo que torce pelo adversário derrotado. Se torço Ceará e o meu time vencer o Fortaleza - Tricolor de Aço, é claro que vou avacalhar com meu colega. Quando o cara se muda a onda acompanha ele, porém com quem ele vai tirar?! Por isso, com certeza o cara deve adotar outro time.

Mas, milhões de KM desse papo complicado de rubro-negros, alvi-negros e tricolores, existe uma paixão muito maior, a interna. Exemplo, eu jogava em um time da Lagoa Redonda, representei este clube em algumas ocasiões. Algumas gloriosas, outras nem tanto. Porém, as cores do Uniclinic estavam vivas em meu coração. E com sinceridade, o nome do time não era legal, as cores também não (roxo e amarelo), mas eu tinha um sentimento carinhoso em relação ao time da Lagoa Redonda.

Claro, meu time não era um time de subúrbio, mas tinha algumas características semelhantes.

Se jogasse no Domingo ou no Sábado pelo Uniclinic e vencesse... Meu amigo, eu lá queria saber do resultado do Ceará ou Flamengo. O que importava que eu tinha feito gol, ou uma jogada massa e que no fim das contas eu tivesse saído com um resultado positivo, como diz o jogador de futebol.

Agora, imagine para o cara que trabalha durante a semana, seja como cozinheiro, eletricista, fiscal de atena da SKY, porteiro, pedreiro, ou qualquer outra função e no fim de semana ele joga pelo seu time. Se o time dele ganha a cachaça rola solta, a cavala frita, a tilápia, o feijãozim, enfim qualquer forma de comemoração. Então, a paixão pelo Leão, vovô ou Tubarão da Barra é deixada de lado, o que importa pra ele é alegria do gol sobre o Cearazim da Mem de Sá, ou sobre o Leãozinho da Capitão Santos, e por ai vai.


obs: Próximo Texto é sobre o Clássico Rei - Cearazim da Mem de Sá e Leãozinho da Capitão Santos.