Saturday, February 20, 2010

Os Haitianos de Messejana

Quando grandes catástrofes acontecem, costumamos ficar solidários as vítimas e ao sofrimento que se instala. Como o tsunami, a fome no continente africano, o terremoto na Itália e o mais recente terremoto no Haiti. E como são acontecimentos que abalam o mundo, esquecemos as nossas tragédias. A fome em nosso bairro, a crescente criminalidade na cidade, o descaso do governo e a pobreza presente em cada esquina.

É nessas horas que aparecem os heróis, seja o herói que traz comida, o herói da energia positiva, o que só de aparecer já leva a força de vontade e claro, aquele carrega consigo a esperança de um novo dia.

Por isso, que nós precisamos de exemplos para desperta a disposição do recomeçar. E um cara nunca será esquecido, pelo menos por alguns em Messejana. Todos os chamam de Zé Sobrinho, um fiscal de obras e limpeza da Prefeitura, que tem como... Essência diria... Mas, não garanto ser a palavra correta. Enfim, ele depois que conhece qualquer pessoa, imediantamente - como um reflexo, já a chama de "Moor", uma abreviação carinhosa do abençoado sentimento de amor. Zé Sobrinho deve ter seus 45 anos, cabelo branco sem pente, usa óculos engordurado da pele bronzeada e maltratada do sol de Fortaleza, mas com um sorriso de milionário no rosto.

Sua função é a de um fiscal, mas sua maneira de atuar é mais como um conselheiro, como um amigo que se dispõe a ajudar.

Ele é uma pessoa do povo, um cara que gosta de sentar em uma calçada e beber sua cachacinha no fim de tarde, depois de um curto dia de trabalho.

Para se conhecer Zé Sobrinho O "Moor", contarei este acontecido. Certo dia, Sobrinho estava bebendo com uns amigos, conversando sobre as aventuras da vida, sobre como conheceram suas esposas, a vida antes, do show de pagode do dia anterior, da festa na praia da Cofeco, enfim sobre os sentimentos da vida. Quando, seu celular toca. Ele olha, parece não reconhecer o número e pensa: "Poouuura, não queria pertubação agora...". Mas, mesmo assim ele atende a ligação.
- Alô?!
- Faaallaaaa mooor... Comé que tá?! Tá onde?!
A pressa na fala da pessoa é por conta da volatilidade dos créditos de um celular, álcool passa é mau nesse quesito.
- Rapaz, tou bebendo com us menino aqui na Mem de Sá... Por que?!
Do lado da linha percebe-se a necessidade, o pedido, a prece por uma ajuda divina.
- Não... É que a negada tá aqui e tals... - claramente, nota-se a necessidade na pele.
- viche! mas, acho que num vou ai não...
- Só o filé... valeu!
Nesse momento é que se identifica a diferença entre uma pessoa como Sobrinho. Assim que desligou, perguntaram:
- Quem era má?!
- Era os Rapaz ali da Oficina, perguntando aonde tava...
- E tu vai lá?
- É, não sei... Acho que não.
Em sua cabeça um sinal fica martelando, é a bondade, o ouvido escutando as preces de necessitados. E seu espírito de herói o faz pensar, e ele diz:
- Cara, tenho de ir comprar um négocio ali na fármacia.
- Pega ai o carro e vai lá... - diz um amigo oferecendo as chaves do carro.
- Não, macho, vou andando aqui...
Sua simplicidade domina as ruas, vai andando com a blusa no ombro, bermuda demais folgado, aparecendo o famoso cofre ou rêgo e uma havaina surrada. Nessa sua caminhada, ele vai pensando sobre o apêrreio dos rapaz da oficina. Sem nem se dar conta dos elogios, do pessoal da avenida Mem de Sá. Então, ele vai na fármacia comprar um rémedio indicado para o antes e o depois. E faz outra parada para levar a tão escassa esperança, levar sem saber que está levando um sentimento de renovação aos rapazes da oficina.

Enquato isso, na oficina os rapazes estão com aquele ar de fim de festa, aquele sentimento de interrogação na cabeça. "Por quê?" é a nova graxa, o novo pneu furado, ou carro enguiçado. E de repente, alguém bate no portão. Enxugando discretamente a lágrima, um dos rapazes vai até a porta atender. O que era discreto ultrapassou os limites do seu antônimo, lágrimas desceram como uma concretização de que as preces foram escutadas e atendidas. Sobrinho chega com 3 litros de cachaça, praticamente como um anjo, uma ação do dedo divino. Os Rapazes da Oficina abraçam o "moor", o elegem como "O Cara", pedem que ele fique, mas ninguém pode saber quem ele é uma figura divina. As pessoas tem de sentir sua divindade.

Um dos Rapazes da Oficina não parava de dizer: "Você é O Cara mermão, Você é o Cara...".

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