Wednesday, February 06, 2013

O Espadachim da Messejana

- Olha aquele 'fila' da puta, Rúdrigue! Tu tá vendo isso?!?!
- Aonde Seu Salomão?!
- Aí rapaz... Metendo a faca nas árvores!!!
Logo eu que sou um amante do Meio Ambiente, procurei o 'fila da puta' a quem se referia meu vizinho, vizinho de muro. Observo o 'elogiado' e tento entender a ira que tomou de conta do Seu Salomão, homem que tem 179 postos de combustível espalhados por toda Messejana. Era apenas um menino. Um menino 10, 11 ou 12 anos de idade, acompanhado pela irmã mais velha e pela mãe. A mãe vinha num passo aperriado, segurava com o braço direito uma sacola enorme e o rosto transmitia o peso que ela carregava. A irmã vinha saltitante com uma boneca, estilo Barbie, na mão. O 'fila' da puta vinha segurando um pedaço de madeira de ponta fina, como uma espada onde o sangue era cal. (Quem sabe, utilizado apenas para misturar essa substância em alguma obra, ou muro. Aqui em Messejana é construindo direto!) O garoto vinha disputando pequenos 'rounds' com as árvores da Rua Chico França (Guarujá). Em cada um, a luta era ferrenha. "TCHÁ! TCHÚN! AÍÍ! Vou te pegar, safado!!! AHHHHHH!", outras: "TOMA!! AARÁÁ!! PEGUEI!!! TUCHÊÊ, MEU AMIGO!". E assim prosseguia. Sua mãe, que por meio da Associação Internacional de Esgrima, gritava: "BORA FRANCISCO CÉSAR! DEIXA DE FRESCURA!".

Seu Salomão viu aquilo como uma agressão desmedida, como um desrespeito a sua pessoa que vive sentada na calça a ver carros passando a toda velocidade. Carros que vão tomando de asfalto as ruas, as calçadas, carros que vão com sede de pedestre pelas ruas, pelas ruas de um bairro onde uma índia tomava banho nua em sua lagoa. "Era uma vez um bairro..." veio em minha cabeça. Seu Salomão, homem poderoso, de posse, como se dizia, como se falava... "Como se falava". Não se fala mais assim. Nem se vive mais assim. Tenho sim, tenho saudade onde eu podia cair no meio da rua de areia batida sem temer que um carro passe por cima de mim. Tenho sim, tenho saudade sim. Lembro que escutei a voz desse mesmo homem, voz bonita que cantava: "Minha Messejana, Minha Messejana, eu tenho saudade de você. Saudade daquela índia, daquele índia dos lábios mais doce que o favo da Jati, daquela índia que não vem mais por aqui". Devia ser um sambinha, eu realmente não lembro da melodia. É, foi-se o tempo...

Olho para este futuro Espadachim da Messejana e penso: "Taca o pau, Menino!!!"


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