Thursday, February 23, 2012

Três Dias em Minha Vida ou Como Descobri que Estava sendo Censurado

Algum lugar da grande Messejana, Fortaleza, Ceará. 15 de Abril de 1985.
   Eu acordei hoje de um sonho muito estranho, ou melhor, surpreendente. Foi um pulo, um impulso para fora de mim. Acordei olhando para o chão, imaginando o pior: Uma queda escrota da cama ao acordar. No sonho havia feito a descoberta da minha vida. Descobri através de uma investigação policial que eu estava sendo censurado.
   A investigação policial começou a ser feita quando meu cachorro, Silas, foi atropelado perversamente pelo filho do vizinho. Chaguinha, filho do Coronel Lopes, tirou carteira e sua maior diversão parece ser caçar qualquer ser vivo na calçada ou fora dela. Dizem até que na cidade existe um campanha chamada "Pedestre Vivo". Afinal, é absurdo, um crime permitir que o pedestre passe perto do asfalto. Pedestre bom, é pedestre... Vivo! Não mate o pedestre, por favor!
   Porém, Chaguinha do alto de sua cabine do seu carro de luxo olha para um sanfoneiro na rua e pensa: "Será que papai tira dinheiro desse maconheiro safado ein?! Ahhh, Essa papai não sabe!". Então, Chaguinha decide conversar com o pai sobre essa ideia, chegando em casa...{ Sig. de "Casa"; 1.local onde se habita, 2.edifício de habitação.} Não é exatamente esse o significado da habitação de Chaguinha. É algo diferente, luxuoso e cheiroso. E lá encontra com seu papai que tem o mesmo hábito, caçar pedestres. 
   Seu papai escuta o que o filho tem dizer. Seu coração bate forte de orgulho. As lágrimas descem pela sua camisa de botão azul clara, aquele azul bebê ou azul caixão de anjo. A emoção toma conta dos dois e um abraço. Um abraço nunca dado antes, um abraço de "Seja bem-vindo meu filho, esta é sua função". Qual é a função de Chaguinha? O que Chaguinha tem para o mundo? Ou melhor, o que o mundo tem a dar para Chaguinha? 
   O que fazer diante de imbecis autorizados a matar como este Chaguinha?
   Nada, afinal este é meu último texto neste jornal.
   Silas não morreu, eu continuo empregado, Chaguinha foi preso e seu pai condenado. Estas são apenas mentiras do dia a dia, ironia. Não rima. E lá em cima, no título do texto, eu explico tudo.


*Texto retirado do jornal "Messejana Comunista". E é como realmente está no título, Ramos de Oliveira foi mandando embora do jornal "O Messejanense" por conta do artigo "O Locador de Bilhar e Nova Messejana". Segundo a direção do jornal, Ramos havia se excedido em seu questionamentos. Este é o texto de estreia em seu novo emprego, feito no dia da demissão. 

No comments: